segunda-feira, 9 de maio de 2011

3- RESUMO CADERNO TEMÁTICO SEXUALIDADE

Questões de gênero na escola e no recreio: articulações possíveis.

Objetivo: mapear s significados de gênero e sexualidade nas brincadeiras do recreio em uma escola pública em Porto Alegre – RS, com turmas de 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, realizada em um ano. Trabalho desenvolvido com apoio nos estudos de Michel Foucault e pesquisa realizada com metodologia etnográfica.

O gênero no espaço escolar
                O recreio escolar caracteriza-se por apresentar várias regras e negociações, criando sua própria cultura que poderia ser denominada como cultura oral do recreio, sendo diferente para meninos e meninas. Fatos observados: meninos e meninas brincavam nas quadras de futebol e de vôlei, respectivamente, quando chega alunos com mais idade. As meninas pedem para àquelas que estavam jogando ocuparem um novo espaço ao lado para que elas pudessem  então jogar. As que  estavam jogando aceitam e se retiram. Os meninos, por sua vez, chegam com imposição e vão tomando o espaço que era ocupado por outros meninos na quadra de futebol que acabam saindo sob ameaças. Nesse caso, as meninas foram negociadoras, enquanto os meninos, mais violentos e agressivos.
                Oura observação foi que os meninos ocupavam mais espaço no pátio da escola: nas quadras esportivas, correndo, etc. As meninas ficavam em grupos menores, sentadas ou em pé, sempre conversando.
                As diferenças de gênero se agregam a idade, a força e a habilidade técnica (nos esportes). Isso contribui para as exclusões vividas em sala de aula e nos recreios.

O gênero e as brincadeiras do recreio
                Existe uma delimitação de espaços que separa e institui o que cada um pode fazer: informa  o lugar dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas.
                Relato de  situações:
1ª) Menino que não joga futebol é discriminado pelos colegas: é chamado de “bicha”.
2ª) Menino pratica balé e joga futebol: recebe gozações e brincadeiras de colegas e consegue levar numa boa.
3ª) Menina que joga futebol com meninos, mas brinca com outras meninas: por frente as meninas aceitam sem fazer gozações, mas por trás é chamada de “menino” apenas pelas meninas.

Conclusão
                O recreio é o espaço escolar onde se presencia diferentes imposições e negociações, segundo o gênero e a idade. Meninos e meninas formam grupos, deslocam-se e fazem coisas diferentes. É um espaço de aprendizagem. As crianças aprendem a agir e se comportar como meninos e meninas. O esporte funciona como uma estratégia de legitimação da masculinidade. As meninas não jogam por serem meninas e menos habilidosas. Meninos menos habilidosos e fortes também não participam dos jogos e dos grupos.

 Sexualidade, prazeres e vulnerabilidade: questões para a educação escolar.
O prazer como conquista e como imperativo da cultura contemporânea
                Amor e sexualidade são termos indissociáveis da vida humana. São ingredientes indispensáveis na realização do prazer, felicidade e saúde.
                A sexualidade se manifesta e diferentes modos, em tempos e lugares diversos. As mudanças ocorreram no final do séc.XIX e ao longo do séc.XX nas culturas ocidentais. Até os anos 80 do séc.XX a homossexualidade era considerada como doença no Código Internacional de Doenças. O tema da sexualidade e de falar sobre ela surgiu com a epidemia do HIV/Aids e a necessidade de entidades como a da saúde e da educação abrirem mais espaços para debates sobre a prevenção e quem seriam os grupos de risco.

Sexualidade na escola: contribuições do conceito de vulnerabilidade
                De maneira geral, as práticas pedagógicas escolares e culturais posicionam determinadas identidades e práticas como sendo mais naturais do que outras. Acontece assim, a formação das normas ou padrões aceitos socialmente.
                A organização da dinâmica escolar precisa privilegiar a produção e a reprodução das diferenças de gênero, sexualidade, raça, classe, geração, religião. É preciso rever o modo de ensinar, os conteúdos selecionados, o que incluímos e excluímos do planejamento, a escolha dos livros didáticos e as teorias que orientam nossas reflexões pedagógicas.
                Vulnerabilidade é um conceito muito amplo e complexo que implica “o movimento     de considerar a chance de exposição das pessoas ao adoecimento e a outros agravos sociais como a resultante de um conjunto de aspectos não apenas individuais, mas também coletivos e contextuais”. Segundo Delor e Hubert (2000) vulnerabilidade é uma forma de análise que busca compreender o que chamam de “distribuição desigual do risco”.
                Contemporaneamente, entendemos que a discussão que abarca a construção de gênero,
sexualidade, prazer, corpo e saúde envolvem dimensões políticas e sociais que, por sua vez, estão implicadas com a escola e com a função docente, sobretudo na direção de perceber que os conhecimentos escolares estão imbricados na produção e atribuição das diferenças de gênero, da educação que instituia heterossexualidade como norma e na exclusão ou silenciamento dos prazeres e vivências juvenis. Não problematizar, não oferecer espaço para discussão, não apresentar as diversas possibilidades de se pensar sobre questões que instigam e colocam os/as estudantes sob diferentes riscos como: HIV/Aids, sexualidade, sexo seguro, prazer, gravidez indesejada, é contribuir para criar ou aprofundar as múltiplas situações de vulnerabilidade a que estão expostos os/as jovens. Educar, hoje, também inclui pensar na perspectiva da redução de danos, da diminuição de agravos e evitar ou diminuir a exposição a riscos.

Algumas considerações
            Frente aos atuais desafios do campo da educação em saúde, parece não haver mais lugar para adotarmos “modelos” educacionais corretos, acabados e inquestionáveis; precisamos investir em processos educativos que permitam problematizar e desnaturalizar certas verdades e crenças, possibilitando-nos pensar e viver de forma valorizada diferentes configurações e arranjos sociais.
                Cabe salientar que atuar no campo da educação e se permitir confrontar/articular com o não homogêneo, o multifacetado e o provisório pode dar lugar a expressão de conflitos, tensões, contradições, sentimentos e compreensões capazes de re-formular e re-criar estratégias didático-pedagógicas no sentido de pluralizar os meios de resolução e enfrentamento das questões que envolvem a relação entre gênero, sexualidade, corpo e prazer. É preciso que se perceba que estas dimensões são muito pouco problematizadas e trabalhadas no contexto das escolas e, quando o são, isso é feito em um tom prescritivo, individualista, normativo e de culpabilização, que explora muito pouco as implicações disso sobre as nossas escolhas, ou sobre a falta delas.
Prof. Angelita Dombrowski

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